terça-feira, 30 de abril de 2013

Carta - Carlos Drummond de Andrade

Há muito tempo, sim, que não te escrevo.
Ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelheci: Olha, em relevo,
esses sinais em mim, não  das carícias

( tão leves ) que fazias no meu rosto:
são galopes, são espinhos, são lembranças
da vida a teu menino, que ao sol posto
perde a sabedoria das crianças.

A falta que me fazes não é tanto
à hora de dormir, quando dizias
"Deus te abençoe", e a noite abria em sonho.

É quando, ao despertar, revejo a um canto
a noite acumulada de meus dias,
e sinto que estou vivo, e que não sonho.

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