terça-feira, 30 de abril de 2013

Carta - Carlos Drummond de Andrade

Há muito tempo, sim, que não te escrevo.
Ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelheci: Olha, em relevo,
esses sinais em mim, não  das carícias

( tão leves ) que fazias no meu rosto:
são galopes, são espinhos, são lembranças
da vida a teu menino, que ao sol posto
perde a sabedoria das crianças.

A falta que me fazes não é tanto
à hora de dormir, quando dizias
"Deus te abençoe", e a noite abria em sonho.

É quando, ao despertar, revejo a um canto
a noite acumulada de meus dias,
e sinto que estou vivo, e que não sonho.

sábado, 27 de abril de 2013

Sobre Saudade - Olindo Santana

Um dia irei ter com a saudade,
Perguntar porque infeliz motivo ela me escolheu.
Não poderia ser o vizinho ao meu lado?
( Não que eu deseje mal a alguém! )
Ou a própria irreconhecida que me fez sofrer!...
Não trilhei caminhos traiçoeiros,
Tão pouco trapaceei nas aventuras do coração.
Por que então essa incomoda me visitou?
Quero despachar esse vazio que me habita.
Preciso ser residência de quem me quer.
Estive me aconselhando com a esperança;
Sabe esse papo de : paciência... tenha fé;
" Saí um tanto quanto desconsolado. "
Agora mesmo estou perdendo tempo,
Não que eu esteja escrevendo lamentos...
É que o tempo certo é sempre o tempo de agora.
Estou indo embora...
Vamos ver que respostas vou encontrar!



sexta-feira, 26 de abril de 2013

Foram Tantas - Olindo Santana

Foram tantos os amores que tive.
Foram tantas as ilusões que criei.
Foram tantas as fantasias que ofereci.
E os lamentos que ouvi?
E os corações que não devolvi?
E as mulheres que seduzi?
Pecados e pecados do jogo da sedução.
O amor? esse eu nunca conheci!
Não dei nenhum desconto pra mim.
Não dei nenhum desconto pra ninguém.
Não semeei flores, não cultivei um jardim!
Não tive portos seguros, não olhei pro além!
O momento meu fiel aliado,
Transformou-se no futuro, meu cruel adversário.
O final, todos vocês já sabem...
Semeei ventos... Colho tempestades!
Me condenem, fiquem a vontade.
Já me apedrejei inúmeras vezes também.
Não desejo a minha vida de exemplo pra ninguém.
Tão pouco pra alguém a minha infelicidade.
Mas, se quiserem realmente saber a verdade:
- É insuportável não sentir saudades de alguém.
Ah! tudo bem...É!, mais ou menos bem!
A estrada é grande, o arrependimento vai e vem.


quinta-feira, 25 de abril de 2013

Ninguém - Olindo Santana

Ninguém me encantou tanto.


Nem sorriu do jeito que você sorriu.
Nem me deixou a saudade,
Nem a vontade do beijo
Que você saudosamente deixou.

Ninguém me incentivou a sonhar...
Criar projetos ou fantasiar,
Em tão completa beleza,
Que a mais dura certeza,
Fosse motivo pra festejar.

Ninguém eu quis tanto rever...
Ou se proibiu esquecer,
Do jeito que você o fez.
Assim, todos seus beijos, talvez,
Eu nunca esqueça de vez.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Foi..Pela - Olindo Santana

Não foi porque,
Até nomes na areia,
Naquele dia escrevi,
Que me apaixonei.
Foi porque o cenário perfeito
De repente se construiu.
Foi porque o meu ser inteiro sorriu.
E me entreguei, e me guiei,
Pela maré que não subiu.
Pela lua cheia que apareceu.
Pelo silêncio que se permitiu.
Pela certeza segura do amor
Que subitamente nasceu.



Foi porque teu corpo inteiro sorriu.
E me fez feliz, e me consentiu,
Se fazer homem, você mulher,
Sob o espaço aberto do céu,
Que tudo tudo, ainda hoje o é,
Exatamente como começou,
No instante perfeito que se fez,
Quando a própria natureza conspirou.

Soneto XII - Olavo Bilac

Sonhei que me esperavas. E, sonhando,
Saí, ansioso por te ver: corria...
E tudo, ao ver-me tão depressa andando,
Soube logo o lugar para onde eu ia

E tudo me falou, tudo! Escutando
Meus passos, através da ramaria,
Dos despertados pássaros o bando:
"Vai mais depressa! Parabéns!" dizia.

Disse o luar: "Espera! Que eu te sigo:
Quero também beijar as faces dela!"
E disse o aroma: "Vai, que eu vou contigo!"

E cheguei. E, ao chegar, disse uma estrela:
"Como és feliz! como és feliz, amigo,
Que de tão perto vais ouvi-la e vê-la!"


terça-feira, 23 de abril de 2013

Logo Mais - Olindo Santana

Quem nuca precisou de uma lugar só seu?
Quem nunca desejou sentir só, a solidão?
É tão difícil a privacidade, a individualidade.
Não me incomode, respeite o meu refúgio.
Quem disse que não é bom sofrer calado?
Você conhece a profundeza dos meus pecados?
Logo mais, poderei estar falando com você.
Logo mais, poderei abandonar a minha solidão.
Logo mais, voltarei a ti abrir meu coração.
Só preciso de um minuto de silêncio.
Só preciso de um minuto só pra mim.
Para que o seu doce e lindo sorriso,
Não testemunhe o sofrimento meu.
Para que o meu conflito de solidão,
Não entristeça o coração teu.
Porque isso eu não posso suportar.


Da Discrição - Mário Quintana

Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo de teu amigo
Possui amigos também...




Como podemos constatar, o tema não é novo, a poesia não é nova, na realidade não há novidade.
Por que poesia? A forma como as palavras são organizadas, o ritmo, a musicalidade, a construção
e distribuição e organização do texto, próprio do poeta.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Pra te fazer feliz - Olindo Santana

Pra te fazer feliz aceito me despir da arrogância,
do meu machismo, da minha intolerância,
da minha total e completa arrogância.

Pra te fazer feliz dou fim a minha incapacidade;
sacrifico-me como mortal, renasço como divindade,
e te dou como presente o segredo da felicidade.

Pra te fazer feliz te entrego o meu destino,
e como se fosse realmente, um anjo divino,
faço o mundo te servir, ao balançares o teu sino.

E por aí, eu vou indo,
te amando, te seguindo.

Melhor você, eu, a gente.../ Olindo Santana

E lá se vai sua vida, minha vida...
Lá se vai a vida de todo mundo,
Gritando, chorando, correndo...
Atrás do prejuízo, sem juízo...
Algumas coisas acabam, desabam,
Desandam, acabam... em nada.

Não é que o momento é único,
Ele simplesmente é, é um a menos,
Pra sorrir, pra cantar, pra VIVER!


A roda do tempo não para,
Não dá desconto. Dá troco, tronco...
Melhor eu ficar esperto, melhor...

Melhor você controlar tua onda tonta.
Melhor a tonta da tua vida ficar esperta.
Melhor a gente contribuir, sorrir...
Melhor a sua vida, minha vida,
A vida de todo mundo, se unir.
Melhor todos juntos, logo construir...

Afinal o mundo da gente fica aqui.

sábado, 20 de abril de 2013

Seus Passos - Olindo Santana

Ouço os gritos dos teus passos,
Vejo os passos dos teus gritos,
Dizendo adeus tristemente,
Se afastando completamente.

Solitário fico eu só...
Nó na garganta, na garganta um nó.
Lágrimas grudadas nos olhos.
Olhos sem brilhos, brilho sem olhos...


Peito estreito para tanta dor.
Dor sem alma, sem cor...
A voz não diz simplesmente nada,
Nada no meio da alma calada...

A estrada não tem curva e é longa,
Sem longas curvas para o teu ninho "araponga".
Seus gritos são asas... cortando o ar,
Me deixando triste, "livre partes a cantar."

Não vejo mais os teus passos sumindo.
Sumiram teus gritos, me consumindo...
Consumido fiquei eu só, na triste porta...
Porta que abre e fecha para tua volta.

Volta que fecha e abre a porta.
Porta que revela uma figura quase morta,
Que agora consegue gritar o teu nome
Em eco que junto aos teus passos some.


terça-feira, 16 de abril de 2013


Estendi uma linha para pescar um sonho,
Sonho que não quero tê-lo ou vivê-lo sozinho.
Sonho consumido nas páginas dos meus versos tristes.
Versos com nomes riscados que arrisco encontrar,
Riscos em figura de mulher e de luar,
Que acabei por chamar : Luana, não luna, Luana.
Puxei cuidadosamente minha linha...
Preparei a cabana, troquei os lençóis da cama...
Pesquei apenas uma estrelinha:
- Tudo bem! Estela é um lindo nome.

sábado, 13 de abril de 2013

Vem - Olindo Santana

Vem com o teu corpo no meu corpo,
Viajar, me deixar louco,
Vem fazer mais do que eu pensar.

Vem com a tua voz no meu ouvido,
Vem despertar os meus sentidos,
Com os teus gemidos de prazer.

Vem com os teus lábios sempre doces,
Lambuzar todo o meu corpo,
Deixar teu gosto de mulher.

Vem pra nunca mais se afastar,
Vem o meu corpo tatuar,
Vem todo teu ser me entregar.

Vem, porque preciso acreditar,
Que o futuro já chegou...
( que o amanhã já se acabou )

E só restou o nosso amor...




Os estatutos do homem - Thiago de Mello

Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
Agora vale a vida, e de mãos dadas,
Marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
Inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
Têm direito a converter-se em manhã de domingo.

Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
Haverá girassóis em todas as janelas
Que os girassóis terão direito

A abrir-se dentro da sombra;
E que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
Abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV
Fica decretado que o homem
Não precisará nunca mais
Duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
Como a palmeira confia no vento,
Como o vento confia no ar,
Como o ar confia no campo azul do céu.






Talvez o leitor possa perceber claramente que com idéias e palavras se criam e se modificam realidades, tempo e história. Claro que com idéias responsáveis e coerentes.
A ditadura e a escravidão não acaba nunca, ela só muda de forma, e muitas vezes adquiri o consentimento
da maioria.
No Brasil, a justiça social é um sonho que ainda não foi alcançado, mas que os políticos insistem em afirmar,
com discursos eufóricos, que está melhorando. Para quem?
O bem estar social, a segurança, a justiça e todos os outros meios que produzem harmonia pessoal e coletiva, está ausente em boa parte dos lares brasileiros, e o que se ver, é o governo criar projetos que disfarçam a necessidade real e urgente, de criar um país mais solidário para todos.


quinta-feira, 11 de abril de 2013

Se você - Olindo Santana

Se você adivinhasse o que se passa em minha mente
No instante perfeito em que você consente,
Provavelmente totalmente irias se entregar,
Só por medo de não mais ver em mim aquele olhar.

Se você soubesse que os seus beijos em brasa
É mais frio que o fogo do desejo que me arde,
Esconderia o sol para logo cair a tarde
E se consumir comigo no calor de nossa casa.

Se você me permitisse que estreitasse seu corpo
Para que no meu não houvesse mais espaço,
Nem sei se dormirias, apesar do cansaço
Ou se morrerias prazerosamente em meus braços.

Se você adivinhasse tudo tudo que estou pensando,
Sabendo que estou te devorando,
No momento calado em que estou te olhando,
Estarias em gemidos, neste instante me amando.

E por aí vai...


Enigma do amor - Murilo Mendes

Olho-te fixamente para que permaneças em mim.
Toda esta ternura é feita de elementos opostos
Que eu concílio na síntese da poesia.

O conhecimento que tenho de ti
É um dos meus complexos castigos.
Adivinho através do véu que te cobre
O canto do amor sufocado,
O choque ante a palavra divina, a antecipação da morte.
Minha nostalgia do infinito cresce
Na razão direta do afastamento em que estou do teu corpo.



terça-feira, 9 de abril de 2013

Desejo - Olindo Santana

A tua porta estava fechada,
Sei que visita nenhuma esperavas,
Mas, como entrometido que sou,
Quebrai-te a vidraça com uma flor,
Para que assim me perdoasses o amor.

Aquela violência singela,
Poderia oferta-te à janela,
Mas não estaria escrito nela,
Um desespero tão profundo e secreto,
Porque seria eu muito discreto.

Acho que com isso, muito mais a atordoei,
Do que com o beijo, que de surpresa roubei.

Não havia tempo para a razão,
Tamanho o desejo, que queimava meu coração.

Cumplicidade do tempo ao meu favor,
E um cenário perfeito, para se consumir em ardor,
De um fogo a tanto controlado,
Te desrespeitei tão carinhosa e respeitosamente,
Que no meu, o teu corpo colado,
Parecia ler  minha mente.

O meu implicante remorso,
Que agora em público falar não posso,
É antes não ter invadido, o teu quarto colorido,
De desejos, há tantos também reprimidos,
E antes, tê-la deixado, completamente sem sentido,
À aprovação constante dos seus gemidos.