quinta-feira, 14 de março de 2013

Ternura ( Vinícius de Moraes )

Eu te peço perdão por te amar de repente,
embora o meu amor
seja uma velha canção no teus ouvidos.
Das horas que passei à sombra dos teus gestos,
bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos.
Das noites que vivi acalentado
pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo.


Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo,
não traz o exaspero das lágrimas,
nem a fascinação das promessas.
Nem os mistérios das palavras,
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias.
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta,
e deixe que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.
                    

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