sexta-feira, 15 de março de 2013

Carinho triste - Manuel Bandeira

A tua boca ingênua e triste
E voluptuosa, que eu saberia fazer
Sorrir em meio dos pesares e chorar em meio das alegria,
É dele quando ele bem quer.

Os teus seios miraculosos,
Que amamentaram ser perder
O precário frescor da pubescência,
Teus seios, que são como os seios intactos das virgens,
São deles quando ele bem quer.

O teu claro ventre,
Onde como no ventre da terra ouço bater
O mistério de novas vidas e novos pensamentos,
Teu ventre, cujo contorno tem a pureza da linha do mar e céu

ao pôr do sol.
É dele quando ele bem quer.

Só não é dele a tua tristeza.
Tristeza dos que perderam o gosto de viver.
Dos que a vida traiu impiedosamente.
Tristeza de criança que se deve afagar e acalentar.
( A minha tristeza também!...).

Só não é dele a tua tristeza, ó minha triste amiga!





Porque ele não a quer.

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