sexta-feira, 22 de março de 2013

Balada de Santa Maria Egipcíaca - Manuel Bandeira

Santa Maria Egipcíaca seguia
Em peregrinação à terra do Senhor.

Caia o crepúsculo, e era um triste sorriso de mártir.

Santa Maria Egipcíaca chegou
À beira de um grande rio.
Era tão longe a outra margem!
E estava junto à ribanceira,
Num barco,
Um homem de olhar duro.

Santa Maria Egipcíaca rogou:
- Leva-me ao outro lado.
Não tenho dinheiro. O Senhor te abençoe.

O homem duro fitou-a sem dó.

Caia o crepúsculo, e era como um triste sorriso de mártir.

Não tenho dinheiro. O Senhor de abençoe.
Leva-me ao outro lado.
O homem duro escarneceu: - Não tens dinheiro,
Mulher, mas tens teu corpo. Dá-me teu corpo e vou
                                                                             [ levar-te.
E fez um gesto, e a santa sorriu,
Na graça divina, ao gesto que ele fez.
Santa Maria Egipcíaca despiu
O manto, e entregou ao barqueiro
A santidade da sua nudez.




Ao ler o poema, a análise recai à figura da jovem viciada em sexo, que depois de arrependida, entregou-se a uma vida de oração em busca de purificação e de perdão.
Eu, leio-o sorrindo calado, deslumbrado com a sutileza da ironia nele contido. Fascina-me também a imagem da nudez da santa. Eu chego a vê-la em minha imaginação, porque é notório que o pecado habita em mim e a construção da mulher santa também é minha..
Por fim a ideia do tabu, o sexo ( como pecado ), que a Santa ao passar deste mundo para o outro, haveria novamente pecado, abrindo assim, mão da própria santidade, mesmo diante de uma figura que desejo nenhum despertasse ( o barqueiro ). Porém pela força do sexo marcado na pele, que muitas vezes torna-se compulsivo em alguma pessoa ( um vício ).
Deixo claro que essa é uma análise puramente emocional e pessoal. É que acredito que a poesia às vezes foge a análise técnica, desprovida de emoção. Porque realmente o único que pode dizer o que queria dizer,


é realmente que escreve, assim como poderia ser deslumbrante a imagem do " barqueiro " para a santa.

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